Para de gastar teu tempo com besteiras
O caminho não existe só por tu saberes que ele existe
Nas últimas sessões de terapia, um tópico é sempre presente: distrações.
Mesmo sabendo o que preciso fazer, acabo me distraindo com outras coisas. E não estou falando daquelas distrações produtivas, tipo ler um livro quando deveria estar trabalhando. Estou falando de coisas como passar uma hora vendo reels duvidosos estilo "Bombardino Crocodilo" ou maratonar episódios de Hunter x Hunter (que, aliás, estou assistindo agora).
Não quero enganar ninguém, eu não sou o bastião da produtividade. Mas estou tentando melhorar. Aos poucos.
Na verdade, esse assunto surge com frequência nas minhas sessões de terapia. Para ser sincero, às vezes me sinto inútil quando não estou produzindo algo. Como se existir sem estar criando fosse algum tipo de falha.
Eu sei que tenho meu trabalho, tenho o Data Creators, mas mesmo assim não me sinto "produtivo" o suficiente. Essa sensação de que preciso estar sempre fazendo algo me persegue.
Vejo pessoas como o Luciano e o Téo Calvo e penso: "Porra, como esses caras conseguem?" A comparação é realmente inimiga da satisfação..
Deve ser a pressão do mundo capitalista em que vivemos... a ideia de que nosso valor está diretamente ligado ao que produzimos. Mas essa abordagem claramente não estava funcionando para mim.
Foi quando minha terapeuta me fez uma pergunta que mudou tudo.
A pressão dos números
Estou trabalhando muito para eliminar essas pressões de mim e já fiz algumas mudanças.
Simplesmente parei de ligar tanto para números de inscritos e quantidade de likes e views, por exemplo.
No últimos meses:
Parei de tentar criar posts só para “viralizar”
Deixei de responder comentários que não agregam valor
Parei de verificar estatísticas (eu via toda semana o número de inscritos aqui da newsletter, hoje nem to ligando muito)
Comecei a delegar mais as coisas
Essa pressão estava me tirando do foco do que realmente importa - ajudar os Data Creators a conseguirem suas oportunidades e eu mesmo me desenvolver.
E o resultado melhorou! Os números que de fato importam não caíram: pessoas que entram no DC e, claro, a parte financeira. Mas a pressão diminuiu drasticamente.
Data Poneis e o caminho imaginário
Na verdade, parece que somos todos um pouco "Data Poneis".
O que quero dizer com isso? Estamos sempre buscando algo que "muda o jogo".
Aquela técnica mágica, aquele segredo, aquele atalho que vai nos fazer pular etapas.
Sempre queremos:
A análise mágica que vai nos promover na empresa
A dieta milagrosa que vai nos dar o shape
O dashboard que vai impressionar todo mundo na apresentação
A técnica de código secreta que vai impressionar a galera técnica
Spoiler: isso não existe. São ações diárias.
Isso me lembra muito uma reflexão que tive ao ler sobre os caminhos do budismo.
As pessoas pensam que por saber que o caminho existe, então ele já está traçado para ti. Mas não é bem assim. A ideia do caminho talvez exista, mas ele só existe quando tu o percorres. Nunca vai ser exatamente como tu imaginavas. Por isso que a ação vem antes da criação.
Ficamos mentalizando esse "caminho" da carreira em dados:
Primeiro aprendo Python
Depois pego um projeto
Depois faço um portfólio top
Depois as entrevistas fluem naturalmente
Depois faço análises complexas e entrego “insights valiosos”
Mas o caminho real é tortuoso, cheio de desvios, becos sem saída e, principalmente, é único para cada pessoa. Ele só existe quando andamos nele.
Há um provérbio árabe que diz: "Ao contrário do estômago, o cérebro não nos alerta quando está vazio."
A ideia aqui é: nós mesmos temos que nos alertar, não vai ser algo automático.
Precisamos cultivar essa consciência de quando estamos nos desviando, quando estamos procrastinando, quando estamos buscando os famosos “10k em 3 meses saindo do zero” mesmo sabendo que isso é furada.
(aqui um mentor e/ou comunidade pode te ajudar).
Vendendo o peixe do Data Creators mesmo.
A técnica ridiculamente simples
Foi aí que minha terapeuta me ensinou algo ridiculamente simples, mas que mudou completamente minha relação com distrações.
Sempre que estou fazendo algo - seja rolando reels, lendo um artigo, assistindo um vídeo, ou qualquer outra atividade - simplesmente me pergunto:
"Qual resultado eu quero alcançar aqui?"
E respondo honestamente.
No fundo a gente já sabe a resposta para muitas coisas que fazemos. Só temos que pensar um pouco. Já temos conhecimento, falta a perspectiva.
Se a resposta for "entretenimento" e estou apenas relaxando, tudo bem. Continuo.
Se a resposta for "nada específico", também tudo bem. Pelo menos estou sendo honesto comigo mesmo.
Mas quando percebo que não estou alcançando o resultado que quero, paro imediatamente e redirecionado minha atenção para algo alinhado com meus objetivos.
Exemplos reais:
Estava lendo um artigo sobre otimização de SQL. 10 minutos depois me perguntei qual resultado queria. Percebi que já tinha lido o que eu gostaria e também a fiz a reflexão…Eu nem otimizo mais queries hoje em dia, pra que eu to lendo?
No grupo do Zap uma discussão sobre política começou. Me perguntei qual resultado eu queria. A resposta foi "nenhum". Sai do grupo. Sem paciência irmão.
Me peguei assistindo acidentes de trânsito kk... Sinceramente percebi que só estava gastando meus últimos neurônios e parei de ver.
Isso aqui parece ser estupidamente simples, e é.
Mas como diria Charlie Munger:
Às vezes precisamos "pegar uma ideia simples e levá-la muito a sério".
Fazer essa reflexão é simples, mas simples não quer dizer que é fácil. Fazer esse exercício mental todos os dias dá trabalho.
Nem sempre consigo/lembro, mas estou trabalhando nisso!
Estudo sem prática = entretenimento
Saber o que tu queres
Essa parte de pensar no que queres é ridiculamente simples, mas quem sabe o que quer?
Tenho inveja “boa” do Teo Calvo nisso. Ele sabe exatamente o que quer. Ele tem uma missão de vida.
Imagino que isso deve dar uma clareza absurda nas ações dele. Claro que ele também deve ter seus "corres" e sofrer com outras coisas, mas nessa questão específica, eu realmente o admiro.
Já eu? Não tenho nenhum motivo particularmente nobre, e isso às vezes me bloqueia. Porque, afinal, quem define o que é nobre e o que não é?
Como diria Nietzsche: "Quem tem um 'porquê' para viver pode suportar quase qualquer 'como'." O problema é que nem sempre tenho esse "porquê" tão claro.
Eu quero apenas aprender, melhorar, ter umas galinhas no quintal, guardar uma graninha pro futuro, e é isso. Se eu puder ajudar as pessoas e usar minha expertise, ótimo. Mas será que isso é "suficiente"? Será que preciso de um propósito mais "elevado"?
Camus diz que encontramos sentido no absurdo da existência através das escolhas que fazemos, não necessariamente através de algum grande propósito cósmico. Talvez o segredo seja aceitar que meus objetivos modestos são válidos por si só.
![Many people have asked what is the meaning of life…' –Albert Camus [899x611] : r/QuotesPorn Many people have asked what is the meaning of life…' –Albert Camus [899x611] : r/QuotesPorn](https://substackcdn.com/image/fetch/$s_!g-vq!,w_1456,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fsubstack-post-media.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2Fa34c79ce-977c-4924-a48d-77e5544cf21a_899x611.png)
E isso me faz pensar: será que precisamos mesmo de um grande "porquê"? Ou podemos simplesmente aceitar que queremos viver bem, aprender coisas interessantes e, se possível, deixar o mundo um pouquinho melhor?
Enfim, fica a reflexão.
Não se trata de produtividade
Ironicamente, não estou promovendo isso como uma técnica de produtividade.
Isso é uma técnica de honestidade.
Ser honesto contigo mesmo sobre o que realmente estás fazendo, por que estás fazendo, e se isso te leva onde queres ir.
Às vezes a resposta é "estou rolando o feed porque estou cansado e quero desligar o cérebro" - e isso é totalmente válido.
Outras vezes a resposta é "estou assistindo esse vídeo sobre SQL porque quero impressionar meu chefe" - também válido.
Mas muitas vezes a resposta será "não sei por que estou fazendo isso" - e aí é que temos que mudar.
Como as coisas estão indo até agora..
Depois de aplicar isso por um tempo:
Parei de consumir notícias diárias que não agregam valor
Fiz uma limpa absurda no meu feed do Instagram/Linkedin
Comecei a estudar japonês novamente (encontrei tempo pra isso)
Estou lendo livros regularmente
Contratei uma agência pra tomar conta do meu IG
Estou preparando uma reunião com os DC só sobre carreira e reflexões
E, o mais importante, estou me sentindo com menos pressão de fazer coisas, sabe?
Tudo isso sem aplicativos de bloqueio, sem dietas digitais extremas, sem desativar contas.
Apenas perguntando constantemente: "Qual resultado quero aqui?"
Experimente por umas semanas. Veja o que acontece…vais ver quanto tempo livre tu tens no final das contas.
Heitor “O Distraído”Sasaki
Data Creators
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Muito legal seu post.
Recentemente eu também me encontrei em um conflito de produtividade vs procrastinação, motivado por um luto tech que vivi (longa história sobre um projeto que, depois de 11 anos, foi retirado do ar). Procurando aceitar um pouco mais as pausas e ressignificar procrastinação como "ócio produtivo" eu me deparei com um livrinho de bolso chamado "Sociedade do cansaço, Byung-Chul Han" ISBN-13 978-8532649966. Eu gostei do que eu li lá e entendi um pouco mais sobre a falácia das métricas pessoais, se você tiver interesse passe os olhos por ele.
Aqui vai mais uma. Essa é do Hemin Sunin:
"Conhecemos o mundo apenas pela janela da mente. Quando a mente está agitada, o mundo também está. Quando a mente está em paz, o mundo também está. Conhecer a nossa mente é tão importante quanto tentar mudar o mundo."